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Doador australiano de Topu Honis conta como padre admitiu abuso sexual Featured

Por José Belo e TjitskeLingsma

Tal como outros doadores estrangeiros, Tony Hamilton e a sua mulher apoiaram de todo o coração o abrigo TopuHonis, em Timor-Leste. Até que tiveram conhecimento que o padre que administrava o orfanato tinha abusado sexualmente de algumas raparigas. Em uma entrevista, Tony Hamilton contou ao Tempo Timor sobre seu apoio à instituição, a traição, a confissão do padre e a decisão de dar termo aos donativos.

Um ano atrás, Tony Hamilton recebeu a preocupante notícia de que o padre, no qual ele confiava e respeitava, tinha sido acusado de abusar sexualmente de algumas raparigas no abrigo em Timor-Leste, o qual o empresário australiano tinha, generosamente, apoiado com dezenas de milhares de dólares. "É a situação mais conflituosa da minha vida. Afetou-me emocionalmente, de forma muito profunda”, disse Hamilton, em uma entrevista via Skype na quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019. Richard Daschbach, um padre americano que fundou a TopuHonisShelter Home em 1992, no enclave de Oecusse em Timor-Leste, com a missão de servir órfãos, crianças carentes e mulheres abusadas, foi, em novembro passado, demitido pelo Vaticano uma vez que admitiu crimes sexuais cometidos contra menores.

Doações

O quão diferente eram as coisas em 2014, quando Hamilton entrou em contato com Daschbach pela primeira vez para ver como poderia apoiar TopuHonis, que possui uma casa-abrigo para crianças na remota aldeia de Kutet e outra para adolescentes na área costeira de Mahata, no Oecusse. "De antemão, eu tinha pesquisado profundamente o Richard, e todos falavam dele com o maior respeito", disse Hamilton (59), um homem de barba e bigode longos e acinzentados, usando óculos. "Eu não sou rico, mas queria fazer uma contribuição. Eu queria fazer a diferença.”

Hamilton e a sua esposa decidiram apoiar o abrigo inicialmente com 250 dólares australianos por mês. Um ano depois, em abril de 2015, o casal visitou TopuHonis. Quando viram os problemas de nutrição das crianças, aumentaram a sua doação mensal para 1.000 dólares australianos. Em 2017, quando TopuHonis deixou de receber gratuitamente arroz, o montante subiu para 2.000 dólares mensais. "Havia um grau satisfatório de governança. De seis em seis meses, Daschbach informava sobre o estado das finanças. Estávamos confortáveis ​​com isso”, disse ele.

Além das contribuições regulares, o casal doou mais 10.000 dólares australianos. Esta arrecadação ativa acumulou cerca de 40.000 dólares. Um número substancial de outros australianos e americanos também têm feito doações, em parte através do Tradewinds e do One World Children’s Fund. Ao longo dos anos, toda uma gama de académicos, jornalistas, ONGs e líderes timorenses, incluindo o atual primeiro ministro Taur Matan Ruak, encontraram-se com Daschbach e visitaram o seu abrigo. Em fevereiro de 2018 - no mesmo mês em que o abuso sexual foi relatado à Igreja Católica - TopuHonis recebeu 104.000 dólares Australianos, disse Hamilton (AUD 9.000 provenientes de Hamilton; AUD 95.000 de outra organização).

Além das doações para o abrigo, financiadores, como Hamilton, também davam dinheiro para bolsas de estudos individuais, para que as crianças de TopuHonis pudessem seguir o ensino pós-secundário (US$ 2.000 por ano). Outros voluntários estrangeiros também ajudaram, trabalhando temporariamente no abrigo. Foram várias as crianças que, após longos processos judiciais, acabaram por ser oficialmente adotadas por estrangeiros, como uma polícia australiana que adotou uma jovem rapariga de Kutet.

"Ele era um grande humanitário e um grande comunicador", disse Hamilton sobre Daschbach. "Eu respeitava-o e gostava muito dele. Mas nunca desconfiei que ele fosse pedófilo” - acrescentou com a voz embargada.

Abuso sexual

Em março de 2018, Hamilton recebeu um telefonema de outro apoiante de TopuHonis informando-o de que a congregação Societas Verbi Divini (SVD, Sociedade do Verbo Divino), a qual Daschbach pertencia, tinha levado o padre para a sua sede regional, em Díli, a capital de Timor-Leste. Através de comunicações eletrónicas, Daschbacheste explicou a Hamilton que tal deslocação era por conta de sua "semi-aposentadoria". Mas o empresário australiano decidiu ver por si mesmo. A 15 de abril de 2018, Hamilton e um codoador voaram da Austrália para Díli, onde Daschbach, dois membros do Conselho do TopuHonis e outras seis mulheres estavam à espera deles no aeroporto. No jantar, discutiram mudanças na gestão financeira, tais como exigidas pelos doadores. No dia seguinte, os dois financiadores australianos confrontaram Daschbach com as alegações de que o padre havia abusado sexualmente de raparigas, em Kutet. Para a surpresa de Hamilton, Daschbach confessou dizendo: "Sim. Tudo do que sou acusado é verdade. Eu sou assim. Sempre fui assim.” A resposta desconcertou Hamilton. "Eu fui a Díli esperando que ele negasse. Mas obtivemos uma confirmação absoluta de que ele era um pedófilo e que tinha sido, desde sempre, um pedófilo”, disse Hamilton, mostrando o caderno preto no qual guardou notas durante esses dias em Díli.

Depois de inicialmente negar o abuso ao atual diretor de TopuHonis, Lili Tarung, Daschbach também lhe admitiu os seus crimes. "Ele disse que molestou raparigas em Kutet e que o fez desde sempre", disse Hamilton. Depois de ouvir essas palavras, o doador australiano não aguentou mais. ”Honestamente, fiquei muito perturbado. Eu não consegui lidar com a conversa e saí do encontro. Ele retornou uns 20 minutos depois. Então, eu disse-lhe:’Richard, você é mau’. E ele respondeu: "Sim, eu sou ".’

Ao longo dos anos, estiveram alojadas em TopuHonis cerca de 600 crianças. Hamilton teme o que possa ter acontecido com as crianças e raparigas que viviam no orfanato, em Kutet. "Ele abusou de três gerações de crianças", afirma Hamilton. "A confiança foi destruída."

(Tempo Timor contactou Daschbach para comentar, mas não conseguiu declarações.)

Declaração

Hamilton não tem conhecimento sobre o estado da investigação nas mãos da procuradoria e da polícia timorense, mas ressalta que os doadores do TopuHonis na Austrália, no ano passado, informaram a Polícia Federal Australiana sobre o caso. Enquanto isso, Hamilton pediu ao seu advogado que elaborasse uma declaração formal sobre as confissões que Daschbach lhe fez, para que possa ser usada como prova num processo criminal, no futuro. O depoimento será enviado esta semana ao tribunal em Timor-Leste. Se necessário, Hamilton vai testemunhar contra o padre.

Em junho passado, Hamilton e a sua esposa foram até TopuHonis para ver como poderiam ajudar. ‘A equipa e as crianças são maravilhosas. Foi ótimo.’ Naquela altura, Daschbach ainda estava em Díli, a ser investigado pela Igreja. Mas em agosto o padre, subitamente, renunciou da congregação e retornou a Kutet, onde supostamente cometeu os seus crimes. Em novembro, o Vaticano tomou a decisão de demitir Daschbach, o que significa que ele foi destituído dos seus direitos no sacerdócio.

Hamilton diz que a SVD e a Igreja Católica agiram rapidamente após as alegações contra Daschbach, em 2018, iniciando as suas próprias investigações e os processos penais e, por fim, levando o caso à polícia. ‘Mas estou desapontado com a total falta de empatia deles. Não há sinais de que estejam preparados para apoiar aquela comunidade no Oecusse e é lá que deveriam ir’, afirma o doador australiano.

Hamilton não entende como é que as autoridades timorenses permitem que Daschbach ande livremente no Oecusse, uma vez que, como estrangeiro, ele é apenas ‘um convidado’ de Timor-Leste. ‘Acredite, entrei em contato com todas as personalidades possíveis para tirar aquele ser da comunidade", disse.

Doações pararam
Os doadores estrangeiros, como Hamilton, continuam a prover apoio financeiro para as bolsas de estudo individuais das crianças de TopuHonis. Mas pararam as suas doações monetárias para o abrigo, o que significa que os fundos estão a secar. Hamilton: ‘Enquanto Daschbach lá estiver e a governança não melhorar, ninguém vai financiar a Topu Honis.’

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Last modified on Tuesday, 12 February 2019 11:15
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